Atualmente, a marca chinesa monta seus caminhões nas instalações da Agrale, em Caxias do Sul (RS); a expansão acompanha o plano de crescimento do portfólio nacional e rede de concessionárias
A fabricante chinesa Foton acelerou sua estratégia de crescimento no Brasil com um plano de ampliação da capacidade produtiva. A meta é passar das atuais três a quatro unidades montadas por dia para 14 caminhões diários até o fim de 2026 — o que elevaria a produção anual de cerca de mil para aproximadamente 3.640 veículos.
Para 2025, o objetivo intermediário é atingir sete caminhões por dia. “Nossa projeção é duplicar a linha atual e, com isso, operar duas frentes de produção: uma dedicada aos modelos leves e outra voltada à linha média”, afirmou Fábio Pontes, diretor de operações da montadora, em entrevista concedida ao portal Transporte Moderno na concessionária Carueme, em Ribeirão Preto (SP).
O executivo explicou que, ao criar uma segunda linha de produção, a empresa poderá otimizar o fluxo fabril e avançar no desenvolvimento de novos modelos. “Hoje trabalhamos em uma única linha que atende todos os segmentos. Com a nova estrutura, conseguimos separar os processos e aumentar a eficiência, principalmente na linha média”, disse. Os investimentos necessários para viabilizar essa expansão ainda não foram divulgados, segundo Pontes.
Desde abril deste ano, a produção dos caminhões Foton no Brasil é realizada no parque industrial da Agrale, em Caxias do Sul (RS). A planta, que opera no regime CKD (montagem local de kits importados), sustenta o plano de expansão da marca no país e vem ganhando relevância conforme a empresa amplia seu portfólio.
Atualmente, a Foton oferece no Brasil o semileve Aumark (3,5 toneladas), o semipesado Auman (17 toneladas), a picape híbrida Tunland (com motorização diesel e elétrica) e o caminhão elétrico iBlue, com capacidade de carga de até 6 toneladas. O utilitário Wonder está em fase final de homologação e deve ser lançado nos próximos meses.
“A perspectiva é mais do que dobrar o número de modelos comercializados no país em curto prazo”, destaca Pontes. “Hoje temos um portfólio muito mais robusto do que no início da operação direta, e devemos apresentar novos lançamentos nas linhas diesel e elétrica em breve.”
Crescimento com rede e nacionalização
A Foton também projeta ampliar sua rede de concessionárias, que passou de 24 para 52 pontos desde o início da operação direta no Brasil, em 2023. A meta é terminar o ano com 80 unidades em funcionamento, cobrindo todas as regiões do país.
Paralelamente, a montadora trabalha para aumentar o índice de nacionalização de componentes, atualmente em cerca de 30%, com objetivo de atingir ao menos 60%. O avanço é estratégico para tornar os produtos elegíveis ao Finame, linha de crédito do BNDES voltada a veículos com conteúdo local
Concessionárias observam salto na demanda
A gestão direta da Foton pela matriz chinesa desde o fim de 2023 também tem impactado positivamente a rede de concessionárias. O Grupo Carueme, presente em Campinas, Ribeirão Preto e Presidente Prudente (SP), projeta multiplicar por quase quatro as vendas de caminhões em 2024: de 70 unidades em 2023 para cerca de 260 neste ano. Em 2022, haviam sido vendidas apenas 65 unidades.
“O novo modelo de operação trouxe regularidade ao portfólio e suporte mais eficaz. Estamos preparados para crescer junto com a Foton”, diz Carlos Monteiro, sócio do grupo. A empresa investiu cerca de R$ 20 milhões em estrutura desde 2019 e pretende abrir uma nova concessionária em Piracicaba (SP) até o fim do ano.
Além de atender pequenos e médios frotistas, a rede já tem contratos com transportadoras e grandes grupos, como a Lojas Cem e uma cooperativa com mais de 27 mil associados.
Estratégia para a América Latina
Presente no Brasil desde 2010, a Foton atuava por meio da importadora Foton Aumark e só passou a operar como subsidiária da Foton Motor Global no fim de 2023. A nova estrutura de gestão impulsionou o lançamento de modelos com motor Euro 6 e o avanço do iBlue no país.
A marca chinesa tem uma trajetória de mais uma década no País. Em 2010, passou a vender caminhões importados da China por meio da Foton Aumark. Na época, disputava o mercado com as outras também chinesas Sinotruk e Schacman. Ambas foram embora do Brasil.
Agora, os planos da companhia vão além do Brasil. A meta é alcançar 150 mil veículos vendidos por ano na América Latina e Caribe até 2030. O projeto inclui a instalação de fábricas no Brasil, Argentina e México, voltadas à produção de veículos a combustão, híbridos e elétricos. Inicialmente, os veículos serão montados com componentes importados (CKDs), com nacionalização gradual.
A empresa também construirá centros logísticos no Chile e Panamá, que abastecerão 32 centros nacionais na América Latina. A meta é que até 80% dos componentes usados na região sejam fabricados localmente até o fim da década.
Brasil: peça-chave para expansão regional
O Brasil será peça-chave na expansão regional da Foton. Segundo Fábio Pontes, o país deverá se tornar um hub de exportação para o Mercosul. A escolha de onde construir uma fábrica no país dependerá de fatores como infraestrutura logística, disponibilidade de mão de obra qualificada e incentivos regionais — variáveis que ganharam peso diante da reforma tributária em curso.
“Não basta um bom pacote de incentivos. É preciso logística eficiente, mão de obra capacitada e viabilidade operacional. A experiência em outros países mostra que a Foton segue um processo gradual: começa com montagem, conhece o mercado e, só então, parte para a produção local completa”, explica o executivo.
Hoje, a Foton possui sete fábricas fora da China e segue o mesmo roteiro em todos os mercados: inicia com montagem, estrutura a operação local e, em seguida, avalia a instalação de plantas definitivas. Com 21 fábricas na China, a Foton registrou 45% de crescimento nas vendas globais entre 2021 e 2024.
Foton planeja ampliar montagem no Brasil para 3,6 mil caminhões por ano até 2026 – Transporte Moderno